Distorções Cognitivas

O que pensamos influencia as nossas emoções e os nossos comportamentos, tendo um impacto significativo nas nossas decisões, no nosso bem-estar…na nossa vida.

Mas…

Serão os nossos pensamentos verdades absolutas? Os nossos pensamentos definem quem somos? Podemos ver os nossos pensamentos, sempre como nossos aliados?

Fazemos interpretações acerca do que nos rodeia, dos outros e de nós próprios, processando a informação de estímulos internos e externos, conseguindo desta forma adaptar-nos à nossa realidade.

Mas quando o processamento destas informações é distorcido, quando as interpretações são enviesadas, desencadeiam sofrimento psicológico com diversas consequências negativas na nossa dimensão emocional e comportamental. Quando isto acontece estamos perante ao que se conhece como Distorções Cognitivas.

Em determinado momento da nossa vida, todos já fizemos distorções cognitivas. Importa diferenciar quando se tornam um padrão, rígido, isto é, quando passámos, de forma recorrente, a interpretar a realidade utilizando estas lentes distorcidas.

Em estados de ansiedade, depressão e stress esta forma de “olhar para a realidade” pode ser mais recorrente, ampliando o sofrimento e reforçando o mal-estar psicológico.

Conhecer as distorções cognitivas e sobretudo identificar quais as mais utilizadas por cada um de nós, em determinados momentos das nossas vidas pode ajudar-nos a estarmos atentos quando surgem, podendo fazer um convite a nós mesmos para olhar para a realidade tirando essas lentes distorcidas e permitindo um novo olhar.

Vamos então conhecer algumas distorções cognitivas…

As distorções cognitivas podem assumir várias formas, por vezes perante acontecimentos que percecionamos como negativos, assumimos a total responsabilidade pelos mesmos, não tendo em conta outros fatores que não dependeram de nós, fazendo uma Personalização. Outras vezes pensamos ter a certeza do que o outro está a pensar ou a sentir sem ter evidências nem considerando outras possibilidades, fazendo uma Leitura da Mente. Também é usual fazer um Filtro Mental, isto ocorre quando, na avaliação de um acontecimento, se considera apenas os aspetos negativos, desconsiderando os aspetos positivos, colocado o foco de atenção apenas na dimensão negativa. A Generalização que se efetua na avaliação de situações especificas para outras situações, assumindo que se ocorreu uma vez vai ocorrer sempre da mesma forma é também uma distorção do olhar sobre a realidade. Outra distorção cognitiva é o Pensamento Dicotómico, que sucede quando se classifica os acontecimentos em apenas duas categorias, Certo ou Errado, branco ou preto, não tendo em conta todos os cinzentos que podem existir no meio desta avaliação. Por vezes também se pode instalar um olhar sobre a realidade baseado na Catastrofização,  isto ocorre quando se acredita que o que vai acontecer no futuro será o pior, não tendo em conta outras hipóteses ou quando se interpreta os eventos negativos como catástrofes, não sendo capaz de fazer um olhar em perspetiva. Estamos perante outra distorção cognitiva, quando fazemos uma Rotulação, isto é, quando colocámos um rótulo global e rígido a nós mesmos, a outra pessoa ou situação, em vez de rotular apenas o comportamento ou a especificidade do acontecimento. É também possível assumir uma posição de Vitimização, quando não nos responsabilizamos pelos nossos sentimentos e comportamentos, colocando sempre no outro esse ónus. Outra distorção cognitiva é o Questionamento, que se traduz no “E Se?”,  isto ocorre quando a interpretação que fazemos dos acontecimentos tem como foco o que poderia ter sido e não foi, verificando-se uma culpabilização pelas escolhas efetuadas no passado.

Estas são algumas das distorções cognitivas que podemos fazer. O olhar para a nossa realidade de forma distorcida, pode enraizar-se e tornar-se a única forma de ver o mundo.

As lentes com que olhamos o mundo e a nós próprios definem as nossas emoções, sentimentos, experiências e os nossos comportamentos. As lentes podem estar opacas, não nos permitindo ver a luz do que nos rodeia, podem ser muito escuras e nessa escuridão até nos podemos sentir inicialmente protegidos mas com o passar do tempo deixamos de ver as cores, a diversidade que existe lá fora e dentro de nós. Por vezes, as lentes estão estilhaçadas e vemos tudo fragmentado, não conseguindo unir, significar a nossa realidade, outras vezes as lentes estão aumentadas como lupas e sentimo-nos pequeninos, às vezes até engolidos pelo que nos rodeia, o mundo é visto como ameaçador. Também pode acontecer exatamente o contrário, olharmos e vermos tudo pequeno, insignificante, aborrecido, chegando mesmo a não ter sentido. As lentes desfocadas não permitem ver com clareza e cansam o nosso olhar porque nos obrigam a um esforço constante. As lentes também podem ter tonalidades de cores, rosa, amarelo, azul, castanho, induzindo-nos em erro porque a vida é multicolor e não tem apenas uma perspetiva.

Em determinados momentos da nossa vida, essas lentes podem ser usadas para ver o mundo, por vários motivos e circunstâncias, mas importa que não se colem ao nosso olhar, que as saibamos retirar, esfregar os olhos e permitir-nos um novo olhar.

Merecemos um olhar renovado sobre nós próprios e sobre o nosso mundo para que nos possamos pensar, sentir e agir de forma diferente e desta forma ter vivências diversificadas daquilo que somos como pessoas e dos papéis que temos na nossa vida. Não controlamos o que nos acontece, mas temos responsabilidade sobre a forma como lidamos com os acontecimentos.

Observar aquilo que acontece no nosso mundo interno, identificar distorções cognitivas, padrões de comportamento, estar atentos ao nosso diálogo interior…promover o nosso autoconhecimento, podendo recorrer a ajuda profissional quando necessário é investir no nosso bem-estar e nossa saúde mental.